Gestão pública da educação deve ser descentralizada

Julia Dietrich

http://aprendiz.uol.com.br/resources/noticias/fazendo/_0707/020707.gif“Precisamos garantir a autonomia das escolas e das diretorias de ensino e possibilitar que os gestores sejam qualificados para motivar os professores”. O alerta é da coordenadora de Educação a Distância da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp) da Secretaria de Educação do estado de São Paulo Aglaé Cecília Alves. Ela esteve presente no I Simpósio de Gestão Educacional para Escolas Públicas, que acontece na cidade de São Paulo (SP).

Para ela, é preciso que as diretorias de ensino se tornem mais autônomas para que consigam suprir as demandas de cada região. “Dada a diversidade cultural do país e sua complexidade, um governo centralizador não dá conta de resolver os problemas e particularidades de cada região”, explicou.

Mostrando uma figura de peixes e pássaros do artista gráfico Escher, a professora insistiu que é na imbricação das individualidades que o coletivo deve ser priorizado. “Precisamos aprender a olhar para nós e para o nosso coletivo para encontrarmos soluções. Precisamos que todas as instâncias, estrutura escolar, secretarias de ensino e órgãos federais, trabalhem em parceria”, disse.

Para que isso aconteça, a assessora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Regina Lúcia de Brito, levantou a necessidade de rever as políticas públicas e combater a descontinuidade das ações educacionais que representam, segundo ela, um dos mais poderosos entraves para se estabelecer um patamar mínimo de qualidade para a escola. “Há falta de metas e foco, mas não podemos deixar de pensar que é nossa responsabilidade organizar e cobrar essa continuidade”, contou para a platéia de educadores.

Para pensar em metas e direções em cada espaço e ambiente escolar, Brito indicou que é premente refletir sobre a formação continuada do professor nos primeiros cinco anos de sua vida profissional. “Vivemos a falência da formação do professor que chega sem a menor condição de exercitar sua profissão”, lembrou.  “Mandamos professor para sala de aula, cobrando que o professor alfabetize os alunos. Mas ele sai da faculdade sem ao menos saber escrever”, complementou.

Diante da necessidade da formação continuada dos profissionais da educação, Brito disse que é fundamental deixar de lado os espetáculos pirotécnicos. “Não adianta usar as novas tecnologias e novas formas de comunicação para manter conceitos educacionais passados. Precisamos olhar para velhas tecnologias e congregar as novas no desenvolvimento de novos conhecimentos. Não podemos mais usar novas tecnologias para continuar com conhecimentos velhos”, indicou.

A posição foi referendada por Alves, que lembrou a desconfiança do teórico da educação Paulo Freire em relação à utilização da tecnologia. “Ele dizia que a tecnologia poderia vir a dividir o Brasil em dois, criando um fosso social no qual uma das partes do tecido social ficaria ainda mais excluída”. Para a professora, que trata diretamente com as novas mídias na educação, existe grande potencialidade em instrumentos como o Second Life e softwares similares no trabalho educacional. “Porém, olhando para essas novas tecnologias, devemos voltar as antigas questões: educar quem e para quê”, pontuou.

Para as especialistas, embora a realidade política no campo educacional viva cada vez mais um momento crítico, há esperança. “Nunca vimos tantos encontros educacionais e simpósios discutindo a questão de formação do professor e qualidade da educação”, contou Brito, lembrando que é um momento rico, no qual há espaço para discussão e, conseqüentemente, para articulação das classes de profissionais que lidam com o cotidiano da escola e conhecem melhor do que ninguém todos os problemas.