TRABALHO E EDUCAÇÃO: PRINCÍPIOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

 

 

 

 

1.  O trabalho como Princípio Educativo

 

 

 

 

1.1. As Raízes e as Transformações da Educação do Trabalhador

 

 

 

 

O trabalho constitui um fenômeno básico para se compreender a educação, existindo íntima relação entre eles. O homem, mediante o ato fundamental do trabalho, transforma as realidades e potencializa o caminho da humanização. Andrade Filho (1999) destaca a ideia de que, com o trabalho, o homem aliena-se e liberta-se, altera a sua visão do mundo cultural-educativo, do mundo econômico, político, social, com perspectivas éticas e com direitos econômicos da humanização, como prática da mundialização do capital. Neste sentido, à medida que compreende o mundo, quando o transforma pelo trabalho, o homem abre o caminho à consciência da liberdade.

Segundo Saviani (1994), as origens da educação e do trabalho confundem-se com a procedência dos seres humanos. Nas sociedades primitivas, a educação caracterizava-se essencialmente pelo ajustamento do homem ao meio físico e social por meio da imitação das experiências de gerações passadas. Os homens produziam sua existência em comum, se relacionavam uns com os outros e se educavam neste processo. A noção de trabalho surgiu assim, como resultado do dispêndio de esforço físico feito pelo homem, para modificar a natureza, obter alimentos, vestuários e abrigo para satisfazer as suas necessidades humanas1. À medida que o homem ia se fixando à terra, surgiam a propriedade privada e a divisão de classes: a classe dos proprietários que podia sobreviver sem trabalhar, pela exploração do trabalho alheio, e o estrato dos não-proprietários, que trabalhava a terra para manter a si e os seus senhores.

 

Por outro lado, a educação não era um sistema desenvolvido de forma elaborada nem rigidamente definido nas antigas civilizações. Na Grécia, a educação das crianças, de iniciativa individual e dependente da capacidade financeira da família, não ia além de um

1 Etimologicamente o termo trabalho surgiu do latim tripaliare — do substantivo tripalium — um instrumento usado antigamente para a tortura, formado por três paus, ao qual eram armados os condenados. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta; tanto que Simone Weil dizia que o trabalhador perdia a alma ao entrar na fábrica, recuperando-a somente no momento da saída (Bosi, 1979). Celso Leite (1994) aponta como origem o termo trabaculu, que em latim significa também uma canga colocada nos escravos para obrigá-los a trabalhar.